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Texto: Aurélio Germano Gonçalves e Iran Azevedo Pereira
Nossa aventura iniciou em 01 de janeiro de 2000, quando surgiu a ideia de partir de Itajaí e cruzar o estado de Santa Catarina de leste a oeste, fazer o mesmo por toda a Argentina, cruzar a cordilheira dos Andes e chegar ao deserto de Atacama, tudo com uma Rural Willys modelo original, ano 65. O primeiro passo seria fazer algumas adaptações ao nosso carro: quebra-mato, grade no teto, guincho elétrico e tanque reserva. Para tanto, contamos com a ajuda detalhista de Abelardo Pereira, meu cunhado, exímio perito na arte de moldar metais. Passo seguinte: definir, com certeza, quem seria o companheiro ideal para essa empreitada. Fácil, meu sogro, Iran Pereira, mecânico conhecedor dos mais profundos segredos da mecânica Willys.
Nosso carro tem mecânica original, uma rural traçada e reduzida, com câmbio em cima de três marchas: A princípio todos acharam impossível percorrer tal trajeto com um veículo com essas características. Porém, conhecedores do carro, não tínhamos dúvidas nenhuma de que realizaríamos com sucesso nossa expedição. Entramos em contato com um primo, Fabiano Teixeira, que preparou o roteiro com todos os detalhes.
Para nos prepararmos para a aventura em julho/2000, organizamos uma expedição ao parque nacional da Serra Geral e parque nacional Aparados da Serra, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. A expedição foi realizada com total sucesso. Tudo pronto, só faltava a data de saída: Inicialmente pensamos em setembro. No entanto, fomos informados que a subida da cordilheira seria comprometida, devido ao degelo. Então decidimos por dezembro, dia 15
Às seis e meia da manhã partimos para o Atacama, marcando nossa saída com muita fé e esperança numa volta com paz e saúde. Nosso primeiro pernoite foi em Dionísio Cerquerira, fronteira com a Argentina.
2º dia – cruzamos a fronteira e dormimos em Corrientes, já na Argentina. Nos causou admiração o excelente estado de conservação das rodovias argentinas. O policiamento local é ostensivo, fomos parados em todos os postos rodoviários, sempre tratados gentilmente.
3º dia – destino Metam. Percorremos aproximadamente 900 km, atravessamos a província Del Chaco, retas intermináveis marcam este trajeto.
4º dia – objetivo: ultrapassar a cordilheira dos Andes. Fomos até Salta e de lá a San Antônio de Los Cobres. A subida é íngreme e a altitude, 4.080 metros, atinge em cheio meu companheiro de viagem. A forte dor de cabeça associada à falta de ar, levou-o, enquanto dirigia, a literalmente apagar em uma das inúmeras curvas da subida, fração de segundo que nos assustou muito. Ainda tivemos que regular o motor muitas vezes, visto que a falta de oxigênio dificulta a combustão, diminuindo a força do carro na subida.
Devido à falta de condições físicas para continuarmos, pernoitamos em San Antônio de Los Cobres a quase 4.000 metros de altitude. Na manhã seguinte, já aclimatados, decidimos por entrar no Chile pelo Passo Jama.
Chegamos a San Pedro de Atacama as 22h30, e o primeiro ato foi telefonar para minha esposa e filhas e compartilhar com elas nosso êxito. San Pedro de Atacama foi nossa sede para incursões pelo deserto. É uma pequena cidade, porém com toda uma estrutura de pousadas, restaurantes e um comércio bastante ativo, onde se encontra o Museu Arqueológico Padre Lê Paige, nome dado em homenagem ao seu fundador, em 1955. Trata da cultura atacamenã, vale a visita. Visitamos também a igreja de San Pedro, a casa Incaica, o Valle de La Luna, a Reserva Nacional Los Flamencos, o Salar de Atacama, que é o maior depósito salino do Chile.
O passeio imperdível foi aos Gêiseres Del Tatio, 94 quilômetros por caminho difícil, a 4.321 metros de altitude. O caminho até lá é complicado, mas vale a pena, o local é fantástico. Afloram violentos jarros de água fervente, sendo muito perigoso se aproximar em demasia. É um espetáculo que faz emudecer, vapor de água com mais de seis metros misturado com os primeiros raios de sol. Depois, nada melhor que um banho naquelas águas termais. Mas, é preciso cuidado, não se aventure em piscinas naturais, onde incautos aventureiros tiveram graves acidentes devido à atividade das águas ferventes. existe uma piscina apropriada para banhos.
Visitamos também as termas da Puritana, mistura de pedras e cascatas, um lindo lugar para deliciosos banhos de águas termais. Aproveitamos para colocar nosso 4X4 fora da estrada convencional e andar um pouco sem rumo, paisagens ainda mais deslumbrantes, tínhamos a impressão de sermos desbravadores, os primeiros a percorrer tais paragens, visto o isolamento total em que nos encontramos.
O deserto é maravilhoso, uma mistura de cores. Andar sem destino por ele reserva surpresa a cada instante: Ilhamas, Alpacas, Guanacos e Vicunhas cruzam a todo momento. A noite, então, é sem comentários. A alta altitude em conjunto com a ausência de luz artificial forma um espetáculo de luzes. Nunca vimos tantas constelações.
No oitavo dia de viagem, começamos nosso retorno. Voltamos por outro caminho e chegamos a Jujui – Argentina, de lá fizemos o mesmo caminho de volta. Foram 12 dias, percorremos 6.000 quilômetros, nosso carro consumiu 1.100 litros de combustível (gasolina) e nunca tivemos uma experiência tão realizadora e um sabor de vitória tão marcante em nossas vidas. Valeu cada minuto, cada sacrifício, cada lágrima acompanhada de cada sorriso. A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela. Todo projeto foi patrocinado por uma empresa local, que acreditou e investiu em nós e deve nosso agradecimento: Mundial Tintas de Itajaí, exemplo a ser seguido.
Nome dos participantes dessa expedição: Aurélio Germano Gonçalves e Iran Azevedo Pereira, moradores da cidade de Itajaí(SC).