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Texto: Chris Bueno
Viajar pelo mundo é provavelmente a maior aventura que alguém pode ter. Por isso, durante séculos, o homem realizou essa façanha de diferentes maneiras: em terra, no mar e no ar. Muitas tentativas fracassaram, outras terminaram em tragédia, outras deram certo e se tornaram exemplo de superação humana. Todas permanecem na história como uma grande conquista da raça humana.
Ainda hoje viajar pelo mundo inspira grandes histórias e atrai a atenção de muitas pessoas. A viagem de volta ao mundo é uma aventura atemporal. Neste post, vamos dar uma olhada em algumas das viagens mais famosas do mundo e viajar através de suas histórias incríveis.
A primeira circunavegação do globo foi realizada por via marítima, com o objetivo de encontrar rotas alternativas da Europa para a Indonésia, importante fornecedor de especiarias e outros produtos para o continente europeu naquela época. A viagem foi iniciada pelo navegador português Fernão de Magalhães em 1519 e completada pelo navegador espanhol Juan Sebastián Elcano em 1522. Magalhães sugeriu ao rei português que empreendesse uma ousada expedição em busca de uma rota que tornasse possível chegar às Molucas (agora Indonésia) pelo ocidente.
No entanto, o rei português não obedeceu ao pedido do navegador português, o que levou Magalhães a procurar o rei espanhol Carlos I em 1517. O rei espanhol aceitou os argumentos do navegador português e forneceu-lhe 270 marinheiros e cinco navios: Trinidad, Concepción, Santiago, San Antonio e Victoria. Dois anos depois, Magalhães completou os preparativos para a viagem e deu início à expedição.
Fernão de Magalhães deixou Sevilha, Espanha, em 1519. Depois de parar nas Ilhas Canárias, sua frota chegou à costa da América do Sul, chegando ao que hoje é o Rio de Janeiro em dezembro.
Continuando para o sul, os navios chegaram a Puerto San Julian, na ponta do que hoje é a costa Argentina. O capitão Magalhães decidiu, então, parar no local antes de decidir qual o próximo destino da expedição. Esta “paradinha” demorou cinco meses, o que levou a tripulação a iniciar um motim – que foi contido com muita esperteza do navegador português.
Magalhães enviou então o navio “Santiago” numa curta patrulha de reconhecimento. O navio porém afundou e sua tripulação foi resgatada por outros navios da frota. Depois deste evento os marinheiros decidiram continuar sua jornada em busca do estreito que agora tem o nome dele.
Durante a travessia a frota perdeu outro navio. A tripulação do navio “San Antonio” decidiu regressar à Europa sem informar o capitão Magalhães (e, tendo chegado à Europa, demonstraram a sua frustração com o navegador).
Os três navios restantes da frota inicial completaram a travessia do estreito no final do segundo ano da viagem, entrando nas águas do sul e chamando este oceano de Pacífico – o nome foi escolhido porque o oceano realmente parecia muito “calmo” depois de todas as dificuldades encontradas na travessia do estreito. Foi no oceano Pacífico que o navegador descobriu a Nuvem de Magalhães, a nebulosa que ainda hoje leva seu nome.
Em março de 1521, a frota chegou à ilhota Seaves, agora o Arquipélago de Guame. Então em abril eles chegaram à ilha de Cebu, nas Filipinas, para negociar com os nativos. A essa altura, a equipe de expedição já havia decrescido. Além dos dois navios perdidos, a maioria da tripulação morreu de fome, sede e doença (principalmente escorbuto).
Fernão de Magalhães também morreu em conflito com os nativos da ilhota de Mactan. O navegante Lopes Carvalho assumiu o comando da expedição por dois meses antes de ser substituído por Juan Sebastián Elcano, que completou a viagem.
Devido ao pequeno número de tripulantes, a expedição decidiu continuar com apenas dois navios, incendiando o Concepción. Com apenas dois navios sob o comando de Elcano, as tropas finalmente chegaram às Molucas no início de 1522, onde conseguiram comprar as especiarias.
Trinidad foi deixado lá para reparos. Mais tarde, ao tentar continuar a viagem, a tripulação foi obrigada a regressar às Molucas, onde foram feitos prisioneiros por lusitanos recém-chegados.
O navio Victoria voltou para a Europa sozinho, cruzando o sul do oceano Índico e circunavegando o cabo da boa Esperança. O navio parou em Cabo Verde onde os portugueses detiveram alguns tripulantes. Com uma tripulação de apenas 17 homens, Elcano comandou o Victoria até San Lúcar de Barrameda, até chegar a Sevilha em 6 de setembro, três anos após sua partida.
Esta foi a primeira viagem de volta ao mundo concluída, saindo da Europa para o oeste e voltando para o leste, o que ajudou a provar que a terra era redonda. Mas a importância da viagem e seus méritos chegaram depois: naquela época, a expedição foi considerada um fracasso pois as perdas eram altas e os ganhos econômicos muito baixos o navio trazia apenas um carregamento de cravo, e a tripulação não recebeu seu pagamento.
Para que ir de avião, navio ou carro se você pode ir andando? Provavelmente, foi isto que passou pela cabeça de Dave Kunst quando decidiu se tornar o primeiro homem a viajar ao redor do mundo a pé. O norte-americano Kunst andou 23.242 quilômetros através do globo durante quatro anos, três meses e 16 dias. Em junho de 1970, Dave, seu irmão, John, e a mula Willie Makeit (que carregava as malas e equipamentos da dupla) saíram de Minnesota, nos Estados Unidos, em direção à Nova Iorque. Então, sobrevoaram o Atlântico para continuarem sua caminhada agora em solo europeu. Os irmãos aterrissaram em Lisboa, Portugal, de onde prosseguiram a viagem, atravessando a Europa.
Durante toda a caminhada, Dave carregou consigo um pergaminho e a cada nova cidade por que passava, colocava um selo e pedia para um oficial do correio assinar, o que se tornou o documento de sua aventura. A notícia da expedição ao redor do mundo dos dois irmãos logo se tornou conhecida, e muitas pessoas se reuniam para recebê-los na entrada de cada cidade. A mula Willie Makeit era um sucesso à parte: ao longo do caminho muitos tentaram comprá-la, mas os irmãos Kunst se recusavam a vender sua companheira de viagem.
Ao passarem pela Iugoslávia, um fazendeiro presenteou a dupla com um cachorro, que foi batizado de Drifter. Porém, poucos dias depois, ao atravessarem as montanhas iugoslavas, o cachorro foi atacado e morto por cães pastores. Uma família americana que estava vivendo na Turquia deu um novo cachorro aos irmãos, que foi nomeado Drifter II. Quando chegaram a Istambul, na Turquia, o consulado Americano e a Secretaria de Turismo do país insistiram que os irmãos arranjassem uma pequena carroça para levarem a água e a comida que precisariam na travessia do deserto. Pessoas que acompanhavam a saga dos Kunst ajudaram-nos a providenciar a carroça, que foi adaptada com uma “casinha” de cachorro para Drifter II e uma cobertura, para que os irmãos pudessem se abrigar nela durante a noite.
Dave e John puderam assim prosseguir sua caminhada e atravessar o deserto. Na metade de sua expedição de volta ao mundo, em 1972, aos pés das montanhas Hindu Kush no Afeganistão, os irmãos foram atacados por bandidos e John foi morto. Levou quatro meses para que Dave se recuperasse do incidente. Agora acompanhado de seu outro irmão, Pete, Dave prosseguiu viagem do ponto exato em que John havia sido morto. Os irmãos receberam permissão especial para atravessarem o Khyber Pass, no Paquistão – um jornal chegou a escrever que os irmãos eram os primeiros não asiáticos a caminharem pela passagem desde Alexandre O Grande. Dave e Pete só conseguiram a permissão porque um príncipe de uma tribo paquistanesa concordou em realizar este trecho da caminhada com eles.
A dupla rumou então para Calcutá, na Índia, onde pegaram um avião para sobrevoar o Oceano Índico e chegar à Austrália. O cachorro e a mula tiveram que ficar na Índia, pois a Austrália não permite que animais estrangeiros entrem no país. Os irmãos aterrissaram em Perth, na Austrália, onde ganharam uma nova mula para ajudar no transporte da carroça. Foi uma longa viagem pelos extremamente secos desertos australianos. No meio da jornada, Pete precisou voltar à Califórnia para seu trabalho, depois de ter acompanhado seu irmão por um ano. Alguns dias depois, a nova mula morreu devido ao desgastante trabalho, e Dave não conseguiu substituí-la.
As coisas estavam ficando difíceis, e Dave estava disposto a deixar a carroça no meio do caminho e encurtar sua viagem. Mas uma professora australiana se solidarizou com o projeto de Dave e decidiu ajudá-lo a concluí-lo. A professora prendeu a carroça em seu carro e foi acompanhando Dave lado a lado até chegarem a Sydney. De Sydney, Dave voou até a Califórnia, onde foi recebido com entusiasmo e foi presenteado com uma nova mula. Da Califórnia, Dave andou até Minnesota, onde tudo havia começado, completando assim sua jornada em outubro de 1974. No final da viagem, Dave havia andado mais de 23 mil quilômetros, atravessando 30 países e quatro continentes – além de ter gasto mais de 20 pares de sapatos. Esta foi a primeira volta ao mundo andando que se tem notícia, e a mais longa também.
Se dar a volta ao mundo em um navio ou avião não é nada fácil, imagina de bicicleta! A árdua tarefa foi assumida por três indianos em 1920. Hoje, muitos são os aventureiros que encaram o desafio, munidos de tecnologia de ponta para circundar o globo sob duas rodas. Mas na década de 20, sem tecnologia – e mesmo sem recurso nenhum – o trio precisou de muita coragem e preparo físico para levar a cabo a expedição. Na euforia do movimento de libertação da Índia, o grupo – composto inicialmente por seis ciclistas – quis realizar a façanha para mostrar a Índia para o mundo, e também fazer a Índia descobrir o mundo.
Porém, as dificuldades do percurso fizeram com que três viajantes acabassem retornando. Sem a metade da equipe, os três ciclistas restantes – Adi Hakim, Jal Bapasola e Rustom Bhumgara – prosseguiram viagem, pedalando através da Índia, atravessando a Europa, a África, a Ásia e a América. Os três companheiros só deixavam de pedalar quando tinham que fazer a travessia dos oceanos. Durante a jornada, os três ciclistas (que não possuíam muito dinheiro) tiveram que fazer diversos trabalhos para arcar com as despesas com comida, roupas e abrigo.
Após percorrerem montanhas, vales, desertos, florestas e cidades, Hakim, Bapasola e Bhumgara completaram a jornada voltando ao seu país de origem em 1923. Ao final da viagem, o trio havia percorrido mais de 70 mil quilômetros, passando por 27 países e quatro continentes em três anos e três meses. Recentemente, um brasileiro – o mineiro Argus Caruso Saturnino – também encarou o desafio. Argus partiu em novembro de 2001, de Cordisburgo (Minas Gerais) e voltou à cidade em fevereiro de 2005, depois de percorrer 29 países e 32 mil quilômetros em pouco mais de três anos (o projeto inicial era realizar a viagem em dois anos e meio).
A expedição fez parte do projeto “Pedalando e Educando”, que pretendia tornar a viagem em material didático para estudantes de primeiro e segundo grau da rede pública de ensino. Portanto, a rota foi escolhida de modo a passar por locais que potencializassem o interesse por História, Geografia, Biologia e o dia a dia dos locais visitados. Em fevereiro deste ano, o escocês Mark Beaumont quebrou o recorde de volta ao mundo em uma bicicleta, realizando a viagem em apenas 195 dias. A viagem começou em agosto de 2007 e percorreu 28 mil quilômetros por 20 países, incluindo Paquistão, Malásia, Austrália, Nova Zelândia e os Estados Unidos.
Em 1924 quatro aviões Douglas World Cruises e oito tripulantes norte-americanos partiram de Seattle, nos Estados Unidos, para realizarem a primeira volta ao mundo voando. 175 dias depois, três das aeronaves pousavam em Seattle, completando a circunavegação pioneira. Os aviões partiram de Seattle em abril de 1924 em direção ao oeste, equipados com a mais alta tecnologia de navegação disponível da época. Mesmo assim, neblina, tempestades, neve e areia foram desafios difíceis de enfrentar.
No final do mês, uma das aeronaves se acidentou em uma montanha no Alaska. Os aviões restantes prosseguiram viagem, sobrevoando Japão, China, Índia, Oriente Médio, Europa, Inglaterra e Irlanda. Em agosto, outra aeronave sofreu um acidente, afundando no Oceano Atlântico. O avião foi substituído e o vôo prosseguiu até os Estados Unidos, pousando novamente em Seattle e completando a viagem em setembro de 1924. A volta ao mundo voando levou 175 dias para ser completa, e percorreu 44.360 quilômetros, com paradas em 61 cidades. O total de horas voadas foi de 371 horas e 11 minutos.
Apenas nove anos depois, em 1933, outro norte-americano realizou uma nova façanha realizando a primeira volta ao mundo voando sozinho. Entre os dias 15 e 22 de julho, o piloto Wiley Post voou 25.110 quilômetros em sete dias, 18 horas e 49 minutos no que foi a mais rápida viagem ao redor do mundo já feita. Em 1949 foi realizada a primeira circunavegação terrestre voando sem paradas. Uma equipe da Força Armada Norte-Americana, comandada pelo capitão James Gallagher e com 14 tripulantes decolou de Fort Worth, no Texas, no dia 26 de fevereiro a bordo de um B-50 Superfortress.
O avião, batizado de Lucky Lady II, foi reabastecido quatro vezes durante o voo sobre os Açores, a Arábia Saudita, as Filipinas e o Havaí. A viagem foi completa no dia 02 de março, tendo percorrido 37.743 quilômetros em 94 horas e um minuto, com uma velocidade média de 398 km/h. Em 1989, o casal Gérard e Margi Moss realizou uma volta ao mundo voando a bordo de um avião leve monomotor. Batizado de Romeo, era um monomotor “Sertanejo” de seis lugares com velocidade de cruzeiro de 140 nós (250 km/h).
O engenheiro e aviador suíço e a fotógrafa e escritora queniana – ambos naturalizados brasileiros – decolaram em junho do Rio de Janeiro e atravessaram 50 países e quatro continentes durante 980 dias, num percurso que completou 120.000 quilômetros (três vezes a circunferência da terra). No último trecho, trouxeram o recorde da primeira travessia entre a Austrália e a América do Sul de monomotor. Após cerca de 700 horas voando, o casal pousou novamente no Rio de Janeiro em 1992.
Uma das mais ousadas voltas ao mundo foi realizada há pouco tempo (se comparado com os primeiros velejadores que realizaram a circunavegação do globo). Inspirado pelo livro Volta ao mundo em 80 dias, um clássico de aventura de Júlio Verne, o milionário suíço Bertrand Piccard resolveu seguir o exemplo do personagem principal da obra e realizar a viagem ao redor do mundo em um balão. O projeto nasceu em 1993, mas demorou seis anos para se realizar. Nesse meio tempo, Piccard e seu companheiro Win Verstraeten tiveram duas tentativas frustradas de concretizar a façanha.
Em março de 1999, Piccard e seu nome companheiro, o inglês Brian Jones, conseguiram enfim realizar o projeto. A bordo do Breitling Orbiter 3, a dupla realizou a primeira volta ao mundo seu escalas em um balão. Piccard e Jones partiram da Suíça e pousaram no Egito, percorrendo 45.755 quilômetros em 19 dias, 21 horas e 47 minutos – o voo mais longo e demorado da história. Esta volta ao mundo foi considerada a última grande aventura do século 20. Agora Piccard, descendente de uma família de aventureiros, quer realizar a grande aventura do século 21 e repetir a volta ao mundo – agora a bordo de um planador movido à energia solar.
No século da tecnologia, o novo “meio de transporte” escolhido pelo milionário é uma aeronave especialmente desenvolvida para a expedição, que possui a mais alta tecnologia e é um verdadeiro laboratório voador. A partida desta nova viagem ao redor do mundo está programada para 2011.