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Texto: Chris Bueno
Durante três anos ele desbravou mares desconhecidos, enfrentou ferozes tempestades, abateu embarcações espanholas, apossando-se de seus valiosos carregamentos, controlou motins, fez alianças com nativos e aportou em novas terras. Com isso, tornou-se o segundo homem a dar a volta ao mundo, e o primeiro a atravessar a perigosa e estreita faixa de oceano que liga o extremo sul do continente americano à Península Antártica, e que hoje recebe seu nome: Estreito de Drake.
O valente capitão Sir Francis Drake (1540-1596) conquistou um lugar na história com suas façanhas. No entanto, seu começo não foi tão glorioso assim. Drake era um conhecido pirata e foi contrato pela rainha inglesa Elizabeth I em 1577 como tal para realizar uma circunavegação terrestre, explorando novos mares, buscando novas rotas, estabelecendo contatos com povos exóticos (e, conseqüentemente, novas alianças comerciais), e trazendo riquezas para a coroa inglesa. Elizabeth I foi astuta ao nomear Drake para a missão: a rainha escolheu o navegador devido a suas habilidades como pirata e também por causa da relativa facilidade com que poderia negar qualquer envolvimento com o corsário, caso algo desse errado.
Junto a Drake, a rainha convocou mais dois grandes navegadores ingleses para liderar a expedição: John Winter e Thomas Doughty. O trio ficou conhecido como “os corsários da rainha” e partiu de Plymouth, na Inglaterra, no dia 15 de novembro de 1577. No entanto, Drake não aprovou essa divisão de poder e secretamente planejava tornar-se o único líder. Isso não demorou muito para acontecer. A diferença entre os três capitães logo trouxe divergências e conflitos entre a tripulação. Controlando a situação com mão forte, Drake conseguiu unir todos os tripulantes e emergiu como o verdadeiro líder.
Logo no primeiro dia de viagem, os navegadores enfrentaram uma terrível tempestade marítima. Drake decidiu parar e esperar o tempo melhorar, ancorando próximo ao porto de Falmouth, ainda na Grã Bretanha. Durante a tempestade, a embarcação de Drake, intitulada de “Pelican” (“Pelicano”), começou a arrastar a âncora. Drake ordenou que o mastro principal fosse cortado, para deixar o barco mais leve, e assim conseguiu salvar sua tripulação. Ao final da tempestade, o Pelican ficou seriamente avariado, e os três comandantes foram obrigados a voltar a Plymoth para fazer reparos na embarcação.
Drake, Doughty e Winters partiram novamente no dia 13 de dezembro, saindo de Plymounth agora com cinco embarcações: Pelican, de 18 canhões e 100 toneladas; Elizabeth, de 16 canhões e 80 toneladas; Marygold, de 10 canhões e 30 toneladas; Swan, embarcação de suprimentos de 50 toneladas; e Christopher, de 15 toneladas. As cinco embarcações seguiram sobre o comando de Drake, que conduziu os 164 tripulantes em uma suposta expedição de comércio ao Nilo. No entanto, enquanto a viagem avançava, o verdadeiro destino se revelou ser o Oceano Pacífico via Estreito de Magalhães – para o pavor dos tripulantes, que conheciam a má fama do lugar, tido como uma das áreas de mais difícil navegação conhecidas. Essa decisão de Drake causou divergências entre a tripulação, e novos conflitos surgiram a bordo.
Ainda no Atlântico oriental, Drake capturou um navio mercante português e obrigou seu capitão, que conhecia bem as áreas próximas ao Brasil e o Estreito de Magalhães, a ficar com eles e ajuda-lo a navegar naquela região. O navegador português permaneceu com Drake durante 15 meses. A flotilha então atravessou o Atlântico, via Ilhas do Cabo Verde, até a costa do Brasil.
Ao aproximarem-se do Estreito de Magalhães, os conflitos a bordo se agravaram. Em uma resolução drástica, Drake acusou Doughty de incitar o motim, e o condenou à execução. Em um discurso caloroso após a execução, Drake afirmou: “este é o fim de todos os traidores”. Além da morte de Doughty, o corsário decidiu também deixar a flotilha mais “leve” e afundou um de seus navios. O episódio pôs fim aos conflitos a bordo, e colocou todos os homens sob obediência a Drake. Após o acontecimento, o capitão renomeou sua embarcação para “The Golden Hind” (“A Corsa Dourada”), marcando um novo início para a expedição.
Uma nova tempestade quebrou a tranqüilidade a bordo e afundou uma embarcação próximo à costa do Brasil. Após um longo esforço, os navios restantes conseguiram se salvar e prosseguir viagem. Em setembro de 1578, a flotilha, agora com apenas três barcos, alcançou o Estreito de Magalhães. A temível travessia foi realizada com velocidade e facilidade surpreendente pelas embarcações. O sabor de vitória logo foi abafado pela realidade das terríveis tempestades do Pacífico. Por dois meses os navios enfrentaram as fortes chuvas, correndo grande perigo pelas péssimas condições de navegação e pela falta de visibilidade, o que aumentava o risco de choque com pedras.
Ao final dos dois meses de chuvas, o navio menor, Marygold, naufragou; o Elizabeth saiu sem maiores estragos e voltou à Inglaterra; e o Golden Hind foi lançado tão longe ao sul, que descobriu que havia uma passagem – uma estreita faixa de oceano – ligando o extremo sul do continente americano à Península Antártica, e após essa passagem, havia mar aberto. A passagem, que recebeu o nome de Estreito de Drake, é considerada até hoje um dos locais de mais difícil navegação do planeta.
As tempestades acalmaram e o Golden Hind finalmente conseguiu velejar para o norte pelo Pacífico Sul, até as águas tranqüilas da Espanha. Após esse começo conturbado, as coisas se acalmaram e Drake pode navegar tranqüilamente por mais de cinco meses, abatendo e tomando os navios espanhóis e suas valiosas cargas. O Golden Hind deixou as águas espanholas em abril de 1579, deixando seus prisioneiros (inclusive o navegador português) em terra firme.
Velejando em direção ao oeste e depois ao norte, o Golden Hind atingiu a Califórnia em 1579, em uma região que Drake batizou de Nova Albion. O capitão e sua tripulação ficaram na região por cinco semanas, fazendo reparos na embarcação e aproveitando o contato pacífico com os índios.
No dia 26 de setembro de 1580, Drake ancorou próximo a Plymouth, mas não aportou. O capitão primeiro perguntou para alguns pescadores locais se a rainha Elizabeth I estava viva. Se a monarca tivesse falecido, o corsário estaria em sérios apuros (provavelmente seria preso e executado), e então fugiria da Inglaterra, levando toda sua preciosa carga. Para seu alívio, os pescadores confirmaram que a rainha estava viva e ainda no trono da Inglaterra. Assim, Drake ancorou próximo a Ilha de Nicholas e esperou que sua esposa e o prefeito de Plymouth lhe trouxessem a garantia de que a rainha o receberia.
Drake foi recebido pela rainha, e presenteou Elizabeth I com ouro, prata e jóias tiradas dos tesouros dos navios espanhóis. O capitão ficou mais de seis horas narrando suas aventuras para a monarca, e também a presenteou com seu diário de viagem e com um mapa do mundo. A rainha ficou lisonjeada com a homenagem e com a conquista de seu súdito, e o recompensou com um prêmio de 10 mil libras. Assim, Drake terminou sua incrível jornada e se tornou o segundo homem a velejar ao redor do mundo.