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Mountain Biking - Foto: Antranias

Repórter sedentária participa de prova de aventura

Só podia ser piada. Mas não era…"Ei!, vocês me conhecem: eu fumo, como linguiça, minha bike está com o pneu murcho há mais de um ano e nunca fiz rapel na vida!!!" Leia o relato

Texto: Luciana Mendonça

Depois de ser “intimada” a fazer parte da equipe vip de imprensa do primeiro Ranger Eco Adventure, a fotógrafa Lu Mendonça conta os detalhes de sua incursão no mundo dos esportes de aventura. Leia o relato dela e veja como é possível uma pessoa sedentária, mas muito interessada em natureza, participar de um evento desses.

A intimação

Estou em casa e recebo um telefonema da redação. “Olá, Lú. Você foi escalada para integrar uma equipe de corrida de aventura”.

Só podia ser piada. Mas não era…”Ei!, vocês me conhecem: eu fumo, como linguiça, minha bike está com o pneu murcho há mais de um ano e nunca fiz rapel na vida!!!”. Mas a resposta foi um tiro certeiro: “Por isso mesmo. Mas fique tranquila, é uma prova indicada para famílias e sendo assim você tem de aguentar”.

Preparativos

Sexta-feira. Partimos rumo a São Bento do Sapucaí em um comboio de picapes Ranger, para já conhecermos os veículos que deram nome ao evento.

Quando chegamos no hotel houve a primeira grande mobilização, iniciava-se a distribuição de equipamentos para enfrentarmos os dias seguintes.

De de um lado a equipe da imprensa, de outro um mundo de bikes envenenadas. Por alguns, instantes me senti criança. E atire a primeira pedra quem nunca desejou apontar para uma bicicleta e dizer “eu quero essa!!!”

Soou o gongo e o salão começou a ficar pequeno; pessoas e bicicletas misturavam-se em um ritmo frenético. “Já vi que não trouxeram bicicleta com rodinha, mas se não tiver Ceci com cestinha eu não vou”, brinquei com o responsável por aquele mundo colorido de bikes, o Cléber da Anderson.

Tudo era diversão… até ouvir que deveríamos ser compatíveis com a “geometria da bicicleta”… sinistro, isso nunca tinha me passado pela cabeça. Tratei de ir logo à caça do meu par ideal.

Encontrei minha alma gêmea em uma Cannondale Raven Full Suspension!!! Ora bolas!!! Saí para um “test drive” no estacionamento. Show! A bike era uma sumidade, só faltava falar.

Ranger Eco Adventure – A Largada

Sábado. Acordamos cedo e fomos para a praça central de São Bento, ponto de partida para nossa aventura. Circo armado, burburinho. Encontrei amigos de outras aventuras e estava à vontade em meio aquela animação.

“Você por aqui?”, espantaram-se alguns amigos esportistas, descrentes ao me verem trajada de chefe de equipe. “Prá você ver…” e caímos na risada. A cena era realmente inusitada.

Dada minha total inexperiência em trekking desportivo, saí a procura de ajuda. Bússola, carta de navegação, planilha. E no palco o organizador ao microfone: “Não é pra caminhar como quem anda na avenida Paulista. É pra caminhar podendo ver a natureza, entrar em contato com o outro…” Beleza, então. Essa parte vai ser baba…

Estávamos prontos. Éramos um bando de leigos, acostumados a estarmos do outro lado das lentes ou com bloco de anotação nas mãos. Incerta do que poderia nos acontecer, achei válido nos unirmos a alguém com algum conhecimento de causa… Se não nos perdêssemos já estava mais do que bom. O escolhido foi o Flávio, navegador que conheço do Rally dos Sertões.

Força no pedal

Largamos. Já me senti vitoriosa ao vencer a primeira ladeira de paralelepípedo na saída da cidade. Nossa “equipe estendida” contava agora com 11 integrantes, entre eles a mãe e a irmã do Flávio, uma pequenina que aprendera a pedalar há duas semanas.

Uma choramingada aqui, uma empurrada na bike ali e os quilômetros seguintes foram percorridos com incentivo e força de vontade. Estávamos juntos e o fato é que em equipe pode existir o difícil, mas não o insuperável.

Deixamos as bikes na transição para a tirolesa. Chegamos cedo e tratei de me por pronta, vestindo logo a cadeirinha e o capacete. Estava achando tudo muito bonito até ir chegando o momento de ser conectada à corda.

A primeira tirolesa a gente nunca esquece…

Um pouco apreensiva, avaliei a situação. Lá se foi corda abaixo uma sorridente menina de 10 anos, lá se foi um cara de 80 quilos, lá se foi uma senhora …e fui ficando confiante, criando coragem. “Acho que agora vou”.

Do alto da pedra, a situação real: durante os próximos metros estaria sobrevoando um rio sem o controle da situação. Tive um repente de expectativa, uma mistura de excitação e medo. Nada mais natural, afinal de contas aquilo era novo pra mim!

É seguro mesmo?”. Diante da resposta afirmativa relaxei e deixei o corpo ir. Extravasei! No meio do caminho já estava às gargalhadas e quando cheguei ao fim já sentia o gosto de quero mais.

Precisei de certa dose de paciência já que a maior parte da minha equipe não tinha conseguido nem vestir a cadeirinha. Observar a fila que se formava era um pouco desolador, mas estávamos lá para nos divertir e tratei de não me torturar com a pressa.

Finalmente estávamos todos a postos para a próxima etapa, a caminhada. Olho a planilha e algo me parece estranho…

Observo o desenho com mais cuidado, releio o texto com atenção e constato: sim, a trilha é mesmo por dentro do rio!!!. E lá vamos nós. Sflosh!!! Com água gelada pelos joelhos chegamos a formar um grande cordão de apoio, uma tarefa conjunta.

Vencer Limites

A água foi um refresco para o que viria a seguir, uma ladeira que parecia sem fim. Eu transpirava em bicas e a motivação era saber que caminhava para o neutralizado, o que significava comida e descanso.

Alguns longos quilômetros foram percorridos até que finalmente chegamos ao oásis: o neutralizado em um ponto alto, de onde avistávamos a Pedra do Baú, Bauzinho e Ana Chata. O néctar dos deuses: um energético estupidamente gelado e um sanduíche caprichado. E eu podendo me esticar no chão sem culpa… ai que vida boa!

Acordei do meu transe com as instruções do organizador. Como demoramos na tirolesa não nos restava muito tempo para uma trilha alternativa; um percurso de quatro horas em torno do Baú. Estava cansada e confesso que não fiquei muito chateada. Na verdade estava feliz de saber que dali em diante a trilha seria na descida.

Abriu-se uma nova possibilidade: a equipe da imprensa foi convidada para conhecer o Bauzinho, de carro!!! A intenção era a de cumprir toda a prova, mas a proposta era tentadora demais. Meu peso na consciência só evaporou quando a Cris Degani, jornalista do 360Graus, se mostrou empolgada para fazer a trilha do Baú. E pra completar ainda fez a escalada subindo pelos grampos cravados na pedra!!!

O Bauzinho

Final de tarde, friozinho gostoso, uma vista maravilhosa. O olhar vagando longe e a sensação gostosa do corpo exercitado. Tranquilidade. Eu estava há anos luz do dia-a-dia estressado.

Perto dali, visitamos a Fundação Pedra do Baú. Conhecemos João Allievi e foi longe a conversa sobre a história da região, a conscientização ecológica, o que já foi feito e os planos do que está por vir.

Escureceu e passamos para pegar nossas bikes, que foram direto pra caçamba. Já era hora de um banho quente e cama…

Equipe reconfigurada

Na manhã do segundo dia alguns traseiros se recusaram a subir na bike… mas nossa equipe de imprensa, apesar de reconfigurada, não desanimou. Pedal no primeiro trecho, curta caminhada e chegamos em um pedreira desativada. O rapel foi cortado da programação por falta de segurança, mas ainda restava a escalada. Apesar da fila, a situação estava mais organizada.

O paredão e eu

Mais uma experiência nova, a escalada. Eram três as vias, com graus de dificuldade variados; optei pela intermediária. Olhando o paredão não sabia como começar, mas foi encostar na rocha que a ação veio instintivamente. Empaquei em um ponto e ouvi a instrução: “pare e pense”. Procurei não me preocupar, fui encontrando fendas e pontos de apoio espontaneamente. Cheguei ao topo. Ponto alto do final de semana! Adorei!!!

Falta Pouco

“Falta pouco”, “vamos lá”; o incentivo da equipe era um prazer em meio à mais uma pirambeira, desta vez empurrando a bike. Enquanto 99.9% dos participantes bufava à pé pela ladeira um ciclista decidido pedalava na raça. Nós, reles mortais bestificados, encostamos dando passagem. Era o Paulo “Shigueo” Yamamura, o mesmo que gentilmente segurou algumas porteiras dali em diante. Impressionante.

No meio do percurso, um barzinho tranqüilo acolhia os participantes cansados de pedalar. Uma desculpa talvez para saborearem uma cervejinha em ambiente rural…

Partimos para o último trecho debaixo de uma chuvinha refrescante e enfim a linha de chegada. Algo que a princípio nos parecia tão distante, para não dizer inatingível, tornara-se fato: Conseguimos!!!

Foi um final de semana diferente. Experimentei novos esportes, convivi com pessoas interessantes e exercitei meu espírito de equipe, tudo em meio a risos e belas paisagens.

Valeu o esforço. Até a próxima!